Necessidade de mudanças estruturais no futebol brasileiro: a Copa do Mundo como ponto de inflexão
Nesse momento, se mostra clara a necessidade de mudanças estruturais no
futebol brasileiro. A Copa do Mundo de 2014 deve ser vista como um ponto de
inflexão. Se a década de 70 marcou o pioneirismo dos profissionais de
preparação de goleiros por Valdir de Moraes, o pós-copa pode ser marcado pela
inclusão da multidisciplinaridade dos profissionais atuantes desde a formação
primária dos atletas, seja na nutrição, gestão profissional e, a mais sentida,
psicologia esportiva, preocupação latente nas oitavas de final do torneio,
antes das cobranças de pênaltis. Apesar de bem postado nos minutos iniciais
durante a semifinal do torneio, o despreparo psicológico foi o maior
responsável pela queda da seleção.
O Brasil vem perdendo há décadas, sobretudo após as mudanças provocadas
pela Lei Pelé, a identidade eternizada nos ensaios de Mário Filho e Gilberto
Freyre que o faria se tornar referência no esporte. O futebol, como negócio,
provocou uma tendência de homogeneidade dos atletas, hoje de características de
muita força física e altura, claramente voltados para futuras negociações.
No futebol, todos os países apresentam um sistema de filosofia e
metodologia na formação de seus atletas que o identifica, as modernizações e
criação de escolas própria têm sido frequentes. Podemos destacar o coletivismo
holandês, a valorização da posse da bola pela equipe alemã, a agilidade do
futebol japonês, a escola defensiva italiana.
O futebol argentino é o da raça e disciplina, características importadas
pelo futebol sul brasileiro. As próprias torcidas dos clubes gaúchos sofrem
mais influência das barras bravas do que das torcidas
nacionais. O futebol gaúcho é um, o da seleção brasileira, é outro. Não adianta
implantarmos um técnico de uma escola marcada pela rigidez principiológica em
uma seleção que se diferencia pela técnica e imprevisibilidade de seus atletas.
Felipão, Tite, Mano, não.
A principal mudança necessária ao futebol brasileiro está na formação de
uma nova teoria, criação de métodos e filosofias a serem seguidas em todo o
território, com a implantação de mecanismos de unicidade possibilitando um
maior desenvolvimento.
Nosso algoz Alemanha é o melhor exemplo. Em 2000, a Federação Alemã de
Futebol (DFB) em conjunto com a Liga Nacional tomaram medidas que transformaram
o futebol nacional. O futebol Alemão se tornou referência em sua estrutura
organizacional, fomentando um dos campeonatos mais organizados e rentáveis do
mundo e de início foram criados mecanismos de responsabilidade fiscal.
Obrigaram todos os clubes das primeiras divisões a terem academias próprias de
formação de atletas e criaram centros de treinamento da própria DFB para atletas
em iniciação até completarem 14 anos, integrados com o sistema de educação
básica. Os atletas passam por treinamentos em todas as posições o que determina
a sua eficiência defensiva e ofensiva.
São quase 1 bilhão de dólares em investimentos, 366 centros de
treinamento que formaram todos os convocados para o torneio, exceto Klose.
Somado a isso, a própria equipe que disputou o mundial tinha ainda à disposição
um professor de ioga, além de uma equipe multidisciplinar in loco e mais de 50
estudantes cientistas comandados por profissionais formados, dissecando todas
as informações dos adversários, os chamados scouts,
na cidade de Colônia. Outra função interessante, mas polêmica, é a do ex-diretor da DFB, Uli Stiellike, responsável
por uma procura ostensiva de atletas com dupla nacionalidade, que
respondem por nada menos que um quarto do selecionado atual.
No Brasil, mudanças na governança dos clubes são aos poucos sentidas,
destaques ao projeto de lei de responsabilidade fiscal que visa garantir um
refinanciamento das dívidas e fortalecimento dos clubes com sanções pesadas em
caso de descumprimento. Outro destaque é o crescimento de programas
sócio-torcedor que retiram a necessidade de negociação de atletas para
equilibrar os orçamentos dos clubes.
Contudo, outro grande problema se dá na ponta da estrutura do Sistema
Nacional de Desporto, nas entidades nacionais de administração no Brasil, fator
esse não negligenciado aqui, mas assunto para outra postagem, como as denúncias
de corrupção que esse ano envolveu a renúncia
do presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), Aécio
de Borba Vasconcelos, após 35 anos, ex-membro da ARENA junto a José Maria
Marín. Outro que renunciou foi Ary Graça, ao cargo de presidente da
Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), função que mantinha desde 1997.
Mas como aqui estamos falando de futebol, temos que trazer fatos da
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a qual em 2012 viu seu presidente,
Ricardo Teixeira, ex-genro de João Havelange, renunciar por inúmeras denúncias
após 23 anos no comando. Mas as mudanças vêm para melhor e assim assume José
Maria Marin, aquele mesmo responsável por furtar, nesse mesmo ano de 2012, a
medalha de um atleta campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Sim, esse é o
apoio aos jovens atletas no Brasil, apoio à formação do jovem antes de tudo
como cidadão, estampado na entidade máxima do futebol brasileiro. CBF que esse
ano está como nova sede, de endereço e nome novo, Edifício José Maria Marin, com
superfaturamento estimado em nada menos que R$ 31 milhões, segundo a “Folha de
S.Paulo”, à Av. Luís Carlos Prestes,
nº 130.
Temos que pensar o resultado negativo de terça-feira como o responsável
por mudanças extremamente positivas para o futuro do futebol nacional. Mas as
mudanças têm de ser drásticas, no cidadão, na várzea, no atleta, na estrutura, no topo, no
cidadão. No atleta, no cidadão.
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