sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Esportes paralímpicos e sua abordagem pela mídia

Apesar da exposição dos esportes paralímpicos ter passado a ser mais sentida nos meios de comunicação, até mesmo pela proximidade de eventos importantes na agenda internacional como os Jogos Paralímpicos, na cidade do Rio de Janeiro em 2016, e de conquistas marcantes de nossos atletas nos últimos anos, pouco espaço ainda é cedido aos seus praticantes. A exposição midiática é pontual e restrita aos grandes eventos e aos resultados de maior relevância.

A mídia, apesar do notório interesse público, age de acordo com seus interesses comerciais e as pautas são geradas a partir da sua capacidade de gerar audiência e dividendos. Os próprios patrocinadores, os quais no Brasil muitas vezes restritos a empresas públicas, não enxergam no desporto paralímpico uma oportunidade de negócio.

Essa resistência do apoio da iniciativa privada se dá não só pelo distanciamento do atleta deficiente aos padrões estéticos de saúde e beleza, mas também pela falta de identificação com o público consumidor do movimento paralímpico e a dificuldade em associar os ideais de força, superioridade e vitória a uma imagem tida como frágil.

O aspecto econômico passou a ser um dos mais significativos na relação entre a mídia e o desporto, ao mesmo tempo em que os veículos de comunicação, na atual situação, se tornaram mecanismos indispensáveis à disseminação de ideias e ideais do movimento paralímpico. Contudo, até mesmo dentro do próprio desporto paralímpico há uma seleção prévia de esportes que são mais atrativos. Tal fato se mostra claro no momento em que modalidades estritamente paralímpicas, como é o caso do goalball, praticado exclusivamente por cegos, são praticamente desconhecidas pelo grande público, o que ocorre em menor escala nas modalidades adaptadas, como natação e atletismo.

Esses dois últimos, inclusive, diferentemente do que ocorre nas modalidades convencionais coletivas, justamente por serem individuais, acabam sendo mais divulgados. Os meios de comunicação preferem alçar um indivíduo ao posto de ídolo do que uma equipe inteira, até mesmo porque as informações e o tempo dedicado à cobertura do acontecimento podem ser reduzidos e devido ao maior número de medalhas, há uma maior identificação com o atleta frente a toda uma equipe.

Uma relação de extrema complexidade se formou e rupturas são necessárias. O público não conhece o desporto paralímpico e as suas beneficies e dessa forma não o consome. A relação entre desporto e capital se tornou essencial, pois “o desporto não é mais meramente entretenimento, é agora negócio”, pelas palavras de Simon Gardiner. 

Ainda se considera a exposição de esportes paralímpicos como de alto risco comercial, devido a baixa audiência e retorno, e há uma dificuldade do público em relacionar as pessoas com deficiência (PCD) com o alto rendimento, logo os pensamentos logo são orientados tão só pela perspectiva de reabilitação e inclusão. Apesar de em sua origem apresentar fins recreativos e terapêuticos, a partir do séc. XXI o desporto paralímpico desenvolveu características próprias de alto rendimento.

A divulgação da superação dos atletas é uma forma clara de encorajar e valorizar as PCDs, mas no deporto de rendimento é necessário dar maior ênfase às conquistas profissionais dos atletas, pois o sensacionalismo em relação às dificuldades causadas pela deficiência acaba por desvalorizar os próprios atletas paralímpicos.

A maior exposição midiática de esportes paralímpicos é extremamente benéfica não só aos atletas, mas a todas às PCDs. Os discursos comuns dão ênfase à condição física do indivíduo e num modelo médico se sobrevalorizam os impedimentos e limitações, recaindo sobre as próprias PCDs a responsabilidade pela própria inserção nos demais espaços sociais. Numa mudança de perspectiva, uma perspectiva social sobre a deficiência, passa a ser destacada a relação das PCDs com a sociedade e potencialidade dessa relação.

Existe um excesso de difusão de ideias marcadas pelo modelo médico de deficiência, conhecido como supercrip, um modelo que trata os atletas de uma forma paradoxal, vezes como coitados e vezes como atletas. O que se exploram aqui não são as realizações desportivas, mas a compaixão dos expectadores que passam a tratar os atletas como vítimas, fortalecendo-se estereótipos de ineficiência e dependência, contribuindo para uma disseminação ainda maior de preconceito e discriminação.

A necessidade de maior exposição midiática ao movimento paralímpico encontra forças em duas correntes, o de reconhecimento das PCDs como sujeitos produtivos da sociedade e, pautado no reconhecimento destes como atletas de alto rendimento, na busca por melhores condições de treinamento e competição. Tais correntes trazem consequentes contribuições positivas à possibilidade de ganhos financeiros e sociais ao movimento paralímpico em geral e, sobretudo, às pessoas com deficiência.

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