Esportes paralímpicos e sua abordagem pela mídia
Apesar
da exposição dos esportes paralímpicos ter passado a ser mais sentida
nos meios de comunicação, até mesmo pela proximidade de eventos
importantes na agenda internacional como os Jogos Paralímpicos, na
cidade do
Rio de Janeiro em 2016, e de conquistas marcantes de nossos atletas nos
últimos
anos, pouco espaço ainda é cedido aos seus praticantes. A exposição
midiática é
pontual e restrita aos grandes eventos e aos resultados de maior
relevância.
A mídia, apesar do notório interesse público, age de acordo
com seus interesses comerciais e as pautas são geradas a partir da sua capacidade
de gerar audiência e dividendos. Os próprios patrocinadores, os quais no Brasil muitas
vezes restritos a empresas públicas, não enxergam no desporto paralímpico uma
oportunidade de negócio.
Essa resistência do apoio da iniciativa privada se dá não só
pelo distanciamento do atleta deficiente aos padrões estéticos de saúde e
beleza, mas também pela falta de identificação com o público consumidor do
movimento paralímpico e a dificuldade em associar os ideais de força,
superioridade e vitória a uma imagem tida como frágil.
O aspecto econômico passou a ser um dos mais significativos
na relação entre a mídia e o desporto, ao mesmo tempo em que os veículos de comunicação, na atual
situação, se tornaram mecanismos indispensáveis à disseminação de ideias e
ideais do movimento paralímpico. Contudo, até mesmo dentro do próprio desporto paralímpico há uma
seleção prévia de esportes que são mais atrativos. Tal fato se mostra
claro no momento em que modalidades estritamente paralímpicas, como é o caso do
goalball, praticado exclusivamente por cegos, são praticamente desconhecidas
pelo grande público, o que ocorre em menor escala nas modalidades adaptadas,
como natação e atletismo.
Esses dois últimos, inclusive, diferentemente do que ocorre
nas modalidades convencionais coletivas, justamente por serem individuais,
acabam sendo mais divulgados. Os meios de comunicação preferem alçar um
indivíduo ao posto de ídolo do que uma equipe inteira, até mesmo porque as
informações e o tempo dedicado à cobertura do acontecimento podem ser reduzidos
e devido ao maior número de medalhas, há uma maior identificação com o atleta
frente a toda uma equipe.
Uma
relação de extrema complexidade se formou e rupturas são
necessárias. O público não conhece o desporto paralímpico e as suas
beneficies e dessa forma não o consome. A relação entre desporto e
capital
se tornou essencial, pois “o desporto não é mais meramente
entretenimento, é
agora negócio”, pelas palavras de Simon Gardiner.
Ainda se considera a exposição de esportes paralímpicos como
de alto risco comercial, devido a baixa audiência e retorno, e há uma dificuldade do público em relacionar as
pessoas com deficiência (PCD) com o alto rendimento, logo os pensamentos logo são
orientados tão só pela perspectiva de reabilitação e inclusão. Apesar de em sua origem
apresentar fins recreativos e terapêuticos, a partir do séc. XXI o desporto
paralímpico desenvolveu características próprias de alto rendimento.
A divulgação da superação dos atletas é uma forma clara de
encorajar e valorizar as PCDs, mas no deporto de rendimento é necessário dar
maior ênfase às conquistas profissionais dos atletas, pois o sensacionalismo em
relação às dificuldades causadas pela deficiência acaba por desvalorizar os próprios
atletas paralímpicos.
A maior exposição midiática de esportes paralímpicos é extremamente
benéfica não só aos atletas, mas a todas às PCDs. Os discursos comuns dão
ênfase à condição física do indivíduo e num modelo médico se sobrevalorizam os
impedimentos e limitações, recaindo sobre as próprias PCDs a responsabilidade
pela própria inserção nos demais espaços sociais. Numa mudança de perspectiva,
uma perspectiva social sobre a deficiência, passa a ser destacada a relação das
PCDs com a sociedade e potencialidade dessa relação.
Existe um excesso de difusão de ideias marcadas pelo modelo
médico de deficiência, conhecido como supercrip,
um modelo que trata os atletas de uma forma paradoxal, vezes como coitados
e vezes como atletas. O que se exploram aqui não são as realizações desportivas,
mas a compaixão dos expectadores que passam a tratar os atletas como vítimas,
fortalecendo-se estereótipos de ineficiência e dependência, contribuindo para
uma disseminação ainda maior de preconceito e discriminação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário