sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Busca contínua pela estabilidade das competições desportivas - as dificuldades da F1

O Brasil continua tendo a maior audiência do Mundial de Fórmula 1, contudo, a hegemonia de um alemão, o fenômeno Sebastian Vettel, contribuiu significativamente no ano passado para a queda de mais de 10% na audiência global da categoria do automobilismo em relação ao período anterior.

Segundo Simon Gardiner, “para o bem ou para o mal, o desporto moderno é um grande negócio” e passou nas últimas décadas por um fenômeno de mercantilização. No futebol, por exemplo, podemos notar a iminência dos chamados clube-empresas, o surgimento de sociedades desportivas com o objetivo de auferirem lucro com a atividade.

Mas é sabido que o desporto tem suas especificidades, pois os clubes passam a ser empresas condenadas a produzir conjuntamente com um concorrente, em que apenas um clube é incapaz de produzir o ”produto desportivo”. Estabelece-se uma relação dual, longe de ser dicotômica, relação essa que Gérald Simon chama de “oposição-cooperativa” e que Klaus Heinemann prefere nomear “concorrência-associativa”. No desporto profissional, o objetivo principal passa então a ser o número um e não o número único, visto que a competição se faz contra, mas também com o adversário. (Para Michel Bouet – “la compétition, c’est faire avec-contre”).

No sistema de franquias norte-americanas, podemos ver alguns mecanismos para aumentar a competitividade, como os conhecidos, “draft”, “revenue sharings” (redistribuição de receitas), e “salary cap” (teto salarial), os quais vou tratar especificamente em outras postagens. De grosso modo, o draft é um processo de seleção por turno de jogadores recém egressos das universidades, um mecanismo de reequilíbrio da competição, onde o clube pior classificado da temporada anterior tem direito à primeira escolha, ao passo que o campeão será o último da lista. Mas nem tudo são rosas, e o draft acaba instituindo o que na economia é conhecido como monopsónio, ou seja, um monopólio do lado da procura que fere o direito de liberdade de trabalho do desportista, apesar de ser ter a anuência do sindicato profissional nessas situações.

Na primeira etapa da F1 desse ano, na Malásia, diferente do avião que não manteve a rota, a FIA tentou encontrar um caminho para que o seu esporte não se perca. Mas acabou por provocar a hegemonia da Mercedes que venceu nas cinco primeiras etapas, além de conquistar a pole-position, cravar a volta mais rápida da e liderar todas as voltas. Nem quando temporadas foram notoriamente dominadas, como Alfa Romeo em 1950 e Ferrari em 1970, isso não aconteceu, muito menos com McLaren, Williams, Brawn, Red Bull e a própria Ferrari em tempos mais próximos.

A F1 é sinônimo de inovação tecnológica e as equipes não enfrentarão grandes dificuldades para se adaptar, com o tempo, ao novo regulamento técnico da F1 que traz significativas mudanças buscando reequilibrar a categoria, aumentando o nível de imprevisibilidade e incerteza de resultados que faz com que o desporto cative bilhões de pessoas em todo o mundo. Hasteando a bandeira do princípio pro competitione, onde se faz necessário o estabelecimento de restrições à concorrência às entidades desportivas, ou de forma mais clara, da prevalência, continuidade e estabilidade das competições.

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