A Busca contínua pela estabilidade das competições desportivas - as dificuldades da F1
O Brasil continua tendo a maior audiência do Mundial de
Fórmula 1, contudo, a hegemonia de um alemão, o fenômeno Sebastian Vettel,
contribuiu significativamente no ano passado para a queda de mais de 10% na audiência
global da categoria do automobilismo em relação ao período anterior.
Segundo Simon Gardiner, “para o bem ou para o mal, o
desporto moderno é um grande negócio” e passou nas últimas décadas por um fenômeno
de mercantilização. No futebol, por exemplo, podemos notar a iminência dos
chamados clube-empresas, o surgimento de sociedades desportivas com o objetivo
de auferirem lucro com a atividade.
Mas é sabido que o desporto tem suas especificidades, pois
os clubes passam a ser empresas condenadas a produzir conjuntamente com um
concorrente, em que apenas um clube é incapaz de produzir o ”produto desportivo”.
Estabelece-se uma relação dual, longe de ser dicotômica, relação essa que
Gérald Simon chama de “oposição-cooperativa” e que Klaus Heinemann prefere
nomear “concorrência-associativa”. No desporto profissional, o objetivo
principal passa então a ser o número um
e não o número único, visto que a
competição se faz contra, mas também com o adversário. (Para Michel Bouet – “la compétition, c’est faire avec-contre”).
No sistema de franquias norte-americanas, podemos ver alguns
mecanismos para aumentar a competitividade, como os conhecidos, “draft”, “revenue sharings” (redistribuição
de receitas), e “salary cap” (teto
salarial), os quais vou tratar especificamente em outras postagens. De grosso modo,
o draft é um processo de seleção por
turno de jogadores recém egressos das universidades, um mecanismo de reequilíbrio
da competição, onde o clube pior classificado da temporada anterior tem direito
à primeira escolha, ao passo que o campeão será o último da lista. Mas nem tudo são rosas, e o draft acaba instituindo o que na economia é conhecido como monopsónio, ou seja, um monopólio do
lado da procura que fere o direito de liberdade de trabalho do desportista,
apesar de ser ter a anuência do sindicato profissional nessas situações.
Na primeira etapa da F1 desse ano, na Malásia, diferente do
avião que não manteve a rota, a FIA tentou encontrar um caminho para que o seu
esporte não se perca. Mas acabou por provocar a hegemonia da Mercedes que
venceu nas cinco primeiras etapas, além de conquistar a pole-position, cravar a
volta mais rápida da e liderar todas as voltas. Nem quando temporadas foram
notoriamente dominadas, como Alfa Romeo em 1950 e Ferrari em 1970, isso não
aconteceu, muito menos com McLaren, Williams, Brawn, Red Bull e a própria
Ferrari em tempos mais próximos.
A F1 é sinônimo de inovação tecnológica e as equipes não
enfrentarão grandes dificuldades para se adaptar, com o tempo, ao novo regulamento
técnico da F1 que traz significativas mudanças buscando reequilibrar a
categoria, aumentando o nível de imprevisibilidade e incerteza de resultados que
faz com que o desporto cative bilhões de pessoas em todo o mundo. Hasteando a
bandeira do princípio pro competitione, onde
se faz necessário o estabelecimento de restrições à concorrência às entidades
desportivas, ou de forma mais clara, da prevalência, continuidade e
estabilidade das competições.
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