sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Transexuais do desporto


A questão de gênero ainda é pouco discutida na sociedade, ainda mais quando relacionada ao desporto, onde o conservadorismo impera e as mudanças, quando ocorrem, são extremamente vagarosas. Há cerca de algumas semanas da realização da Semana da Diversidade na UNESP Franca, o assunto desporto e transexualidade mais do que nunca deve ser trazido à tona.

A disforia de gênero na transexualidade é causada por uma discordância entre dois sistemas biológicos: o neural e o genital, tendo em mente que a determinação do gênero não decorre exclusivamente das características anatômicas, mas de diversos outros fatores. A Organização Mundial da Saúde já dá sinais de sua “despatologização” e na próxima edição da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), a transexualidade deixará de ser considerado um transtorno. A notícia promete causar polêmica pelo fato de, inserida em outra classificação, ficar fora da cobertura dos sistemas de saúde.

No desporto, um grande avanço ocorreu em 2004, quando o Comitê Olímpico Internacional aprovou a participação de pessoas que fizeram cirurgia para alteração sexual nos Jogos Olímpicos, a partir desse fato duas fortes correntes se formaram. 

Na primeira, afirma-se que os transexuais podem participar ativamente pelo lazer, mas não pela glória no desporto, tendo em vista possíveis vantagens de desempenho. A segunda, sustentada por especialistas e pelo próprio COI, legitima a competição do indivíduo após comprovadas algumas exigências médicas.  Quando a cirurgia é realizada antes da puberdade, há consenso que o indivíduo deve ser tratado como se pertencesse ao sexo alterado. Nos casos de cirurgias após o advento da puberdade, há o fato realizado por um indivíduo com características anatômicas masculinas anteriores, em que poucas exigência são determinadas. Em caso contrário, três condições são impostas pelo fato de haver a influência de hormônios determinantes para a formação biológica do gênero que gerarão vantagens no rendimento.

Esse requisitos decorrem do aumento relativo de massa corporal magra nos meninos e de gordura corporal nas meninas que acabam refletindo na diminuição da resistência muscular, força e velocidade, em comparação ao que ocorre com os primeiros. O livro Tratado de Fisiologia Médica, de Arthur Guyton, explica, de maneira geral, que a força muscular, ventilação pulmonar e débito cardíaco estão principalmente relacionados à massa muscular. Portanto, a maior diferença no rendimento final reside na maior concentração muscular masculina e isso se deve a diferenças endócrinas, ou seja, hormonais.

A primeira condição de eleição é que a cirurgia anatômica seja completa, incluindo a alteração da genitália externa e a gonadectomia (ablação dos testículos). A segunda é o reconhecimento oficial das autoridades e, num último momento, é necessário o submetimento à terapias hormonais adequadas, confiáveis e num tempo considerável, a fim de minimizar as vantagens atinentes ao gênero.

O indivíduo se torna elegível num período não menor que dois anos após a gonadectomia e depois de ser submetido a uma avaliação confidencial e individual. Caso o gênero do atleta seja questionado, a delegação médica terá autoridade para tomar as decisões necessárias no sentido de se determinar o sexo do competidor.

O transexual não é simplesmente alguém que queira mudar de sexo, menos ainda quem busca vantagens em competições desportivas. O transexual é um ser humano que sofre com uma anomalia relacionada com a divergência entre a programação sexual do cérebro e seu órgão genital. Um homem no corpo de uma mulher ou uma mulher no corpo de um homem.

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